Gálatas 5.13-26
13 Porque
vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Mas não useis da
liberdade para dar ocasião à carne, antes pelo amor servi-vos
uns aos outros.
14 Pois toda a lei se cumpre numa só palavra, a saber: Amarás ao
teu próximo como a ti mesmo.
15 Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede
não vos consumais uns aos outros.
16 Digo, porém: Andai pelo Espírito e não haveis de cumprir a
cobiça da carne.
17 Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a
carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que
quereis.
18 Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da
lei.
19 Ora, as obras da carne são manifestas, as quais são: a
prostituição, a impureza, a lascívia,
20 a idolatria, a feitiçaria, as inimizades, as contendas, os
ciúmes, as iras, as facções, as dissensões, os partidos,
21 as invejas, as bebedices, as orgias, e coisas semelhantes a
estas, contra as quais vos previno, como já antes vos preveni,
que os que tais coisas praticam não herdarão o reino de Deus.
22 Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a
longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade.
23 a mansidão, o domínio próprio; contra estas coisas não há
lei.
24 E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas
paixões e concupiscências.
25 Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.
26 Não nos tornemos vangloriosos, provocando-nos uns aos outros,
invejando-nos uns aos outros.
O nosso texto trata a respeito de uma forma de liberdade.
Podemos observar que o termo liberdade serviu a diversas
conotações ao longo da história. Liberdade política, religiosa,
ideológica, sexual. Liberdade contra a escravidão, opressão e do
direito de se expressar e de viver...
Atualmente, um significado liberal tem lugar em nossa forma de
viver, mesmo que não tenhamos consciência disso. Os meios de
comunicação são fortes em querer demonstrar que tudo é lícito,
tudo pode ser feito. Ou melhor: tudo deve ser feito de acordo
com o que você quer. Não há necessidade de se pensar no outro.
A liberdade se torna no direito de prejudicar os outros em prol
de um individualismo grosseiro, exagerado. A “liberdade” foi
colocada como pretexto para o egoísmo, para atitudes que
justificam um individualismo que oprime e destrói a liberdade do
outro. Logo este tipo de liberdade se constrói a partir do roubo
e da destruição da liberdade do outro. Isso é bem diferente do
“ama o teu próximo como a ti mesmo…”.
Estudando sobre a comunidade da Galácia, pudemos ver a
pluralidade de aspectos religiosos que compunham a comunidade em
questão. Esse texto em particular, trata de um problema na
comunidade em que a liberdade das obras da carne contrastava com
a liberdade do fruto do Espírito, gerando divisões, querelas e a
desunião da comunidade. A liberdade das obras da carne
caracteriza-se em aspectos que visam apenas o bem-estar pessoal,
em detrimento do bem-estar do próximo. São atitudes que estão
presentes na vida de quem não conhece a Cristo e sua proposta
para vida humana: Vida, e vida em abundância (Jo 10.10). A
liberdade do Espírito visa também o que é do outro, sem contar
que ela destrói as obras da carne. Uma vez vivendo a liberdade
do Espírito, podemos amar ao próximo como a nós mesmos,
realizando exatamente com o outro aquilo que gostaríamos que
fosse realizado conosco.
A “liberdade” estava sendo usada como pretexto para condutas
abusivas e contrárias ao amor ao próximo. Vejamos a lista das
obras da carne que estão nesse texto, em 5. 19-21a. Divisões e
contendas encobriam a unidade interna pela ausência do amor.
Isso leva quem pratica tais obras a um fim certo: 5.21b.
Paulo observa nos irmãos da galácia dois pólos de tensão que
estão presentes no ser humano: o agir segundo a carne e o agir
segundo o Espírito. Esses pólos são como forças que o levam a um
individualismo (quando agimos segundo a carne) ou uma atitude
solidária e coletiva (quando agimos segundo o Espírito). Isso
não é diferente em nós: precisamos, a cada dia, deixar para trás
as coisas próprias da carne e buscarmos as coisas próprias do
Espírito. A nossa tendência natural é para o pecado, para a
morte, para as atitudes da carne. Vivificados pelo Espírito,
podemos ir contra tais coisas, lembrando de outro texto
atribuído ao apóstolo Paulo: “esquecendo das coisas que para
traz ficam (as obras da carne), devemos prosseguir para o alvo:
a soberana vocação em Cristo Jesus (viver de acordo com o
Espírito)” (Fl 3.13-14 – adap.).
A liberdade cristã é limitada pelo amor, e este limite tem como
consequência o viver o fruto do Espírito - verdadeira liberdade
Cristã. A carne por sua vez, representa o egoísmo presente na
essência do ser humano, que vai contra o fruto do Espírito e
seus desdobramentos. A liberdade no mundo atual exclui e/ou
divide (o seu bem independente do outro); a verdadeira liberdade
cristã inclui amorosamente todos os seres humanos.
Com isso, a Igreja é desafiada a viver internamente uma
liberdade que promova partilha, dignidade, comunhão... bem como
denunciar além dos seus limites a liberdade contemporânea que
marginaliza (deixa à margem) e oprime.
Que o próprio Deus, através do Espírito Santo, promova isso no
nosso viver. Que estejamos abertos a entender do próprio Senhor
qual o Seu desejo com relação a nossa união. Que estejamos
prontos para viver o fruto do Espírito de forma completa, para
daí, sermos uma comunidade que se preocupa com o seu próximo,
com verdadeiro amor, vivendo em real liberdade, aquela que nos é
proposta pelo nosso Senhor. Forte abraço.
Em Cristo,
Ricardo, pastor
Esta meditação foi enviada em
04/08/10 por e-mail. |