Comentário de Evangelho: Marcos

20/11/2006

 

Autoria
Mesmo que o Evangelho de Marcos seja anônimo, a antiga tradição é unânime em dizer que o autor foi João Marcos, seguidor próximo de Pedro (1 Pedro 5.13) e companheiro de Paulo e Barnabé em sua primeira viagem missionária. O mais antigo testemunho da autoria de Marcos tem origem em Papias, bispo da Igreja em Hierápolis (cerca de 135-140 d.C.), testemunho que é preservado na História Eclesiástica de Eusébio. Papias descreve Marcos como “interprete de Pedro”. Embora a igreja antiga tenha tomado cuidado em manter a autoria apostólica direta dos Evangelhos, os pais da igreja atribuíram coerentemente este Evangelho a Marcos, que não era um apóstolo.
 
Data
O Evangelho de Marcos foi terminado possivelmente depois da morte de Pedro, por volta de 67 d.C., que aconteceu durante as perseguições do Imperador Nero. O Evangelho em si, especialmente o capítulo 13, indica ter sido escrito antes da destruição do Templo em 70 d.C., sendo que a maior parte das evidências sustenta uma data entre 65 e 70 d.C.
 
O Evangelho
Marcos estrutura seu Evangelho em torno de vários movimentos geográficos de Jesus, que chega ao clímax com sua morte e ressurreição subsequente. Claro que também não podemos desprezar que o Evangelho possui mais ou menos no seu “meio” a declaração de Pedro que, cheio do Espírito, reconhece ser Jesus o Cristo (Marcos 8.29).

Após a introdução (1.1-13), Marcos narra o ministério público de Jesus na Galiléia (1.14-9.50) e Judéia (capítulos 10-13), culminando na paixão e ressurreição (capítulos 14-16).

O Evangelho pode ser visto como duas metades unidas pela confissão de Pedro de que Jesus era o Messias (8.17-30) e pelo primeiro anúncio de Jesus e sua crucificação (8.31).

Marcos é o menor dos Evangelhos, e não contém nenhuma genealogia e explicação do nascimento e antigo ministério de Jesus na Judéia. Esse fato pode mostrar que este Evangelho seria o mais antigo, mais próximos dos acontecimentos narrados, sem a necessidade de situá-lo historicamente.

É o Evangelho da ação, movendo-se rapidamente de uma cena para outra, quase podendo ser comparado a um filme da vida de Jesus. Ele destaca as atividades dos registros mediante o uso da palavra grega “euteos” que costuma ser traduzia por “imediatamente”. A palavra ocorre quarenta e duas vezes, mais do que em todo o resto do NT. O uso frequente do imperfeito por Mc denotando ação contínua, também torna a narrativa rápida.

De muitas formas, ele enfatiza a Paixão de Jesus de modo que se torna a escala pela qual todo o ministério pode ser medido: “Porque o Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (10.45). Todo o ministério de Jesus (milagres, comunhão com os pecadores, escolha de discípulos, ensinamentos sobre o reino de Deus, etc.) está inserido no contexto do amor oferecido pelo Filho de Deus, que tem seu clímax na cruz e ressurreição. 

A Revelação do Senhor
Esse Evangelho não é uma biografia, mas uma história concisa da redenção obtida mediante o trabalho expiatório de Cristo. Marcos demonstra as reivindicações messiânicas de Jesus enfatizando sua autoridade como Mestre (1.22) e sua autoridade sobre satanás e os espíritos malignos (1.27; 3.19-30), o pecado (2.1-12), o sábado (2.27-28; 3.1-6), a natureza (4.35-41; 6.45-52), a doença (5.21-34), a morte (5.35-43), as tradições legalistas (7.1-13,14-20), e o templo (11.15-18).

Título de abertura do trabalho de Marcos, “Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (1.1), fornece sua tese central em relação a identidade de Jesus como o Filho de Deus, tema que será definido, como escrevi anteriormente, mais ou menos no meio do escrito, com a revelação de Pedro, cheio do Espírito (Marcos 8.29). Tanto o batismo quanto a transfiguração testemunham sua qualidade de Filho (1.11; 9.7). Em duas ocasiões, os espíritos imundos O reconhecem como Filho de Deus (3.11; 5.7). Por fim, a narrativa da crucificação termina com a confissão do centurião: “Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus” (15.39).

O titulo que Jesus usava com mais frequência para si próprio, num total de catorze vezes em Marcos, é “Filho do Homem”. Como designação para o Messias, este termo (ver Daniel 7.13) era usado, mas não era tão popular entre os Judeus como o título “Filho do Homem” para revelar e para esconder seu messianismo e relacionar-se tanto com Deus quanto com o homem.

Marcos, atentando para o discipulado, sugere que os discípulos de Jesus deveriam ter um discernimento amplo quanto ao mistério de sua identidade. Mesmo apesar de muitas pessoas interpretarem mal sua pessoa e missão, enquanto os demônios confessam sua qualidade de Filho de Deus, os discípulos de Jesus precisam ver além de sua missão, aceitar sua cruz e segui-lo. A segunda vinda do Filho do Homem revelará totalmente seu poder e glória.
 
A Atividade do Espírito Santo
Junto com os outros escritores dos Evangelhos, Marcos recorda a profecia de João Batista de que Jesus “vos batizará com o Espírito Santo” (1.8).

O Espírito Santo desceu sobre Jesus em seu batismo (1.10), habilitando-o para Seu trabalho messiânico de cumprimento da profecia de Isaías (Is 42.1; 48.16; 61.1-2). A narrativa do ministério subsequente de Cristo testemunha o fato de que seus milagres e ensinamentos resultaram da unção do Espírito Santo.

Marcos declara graficamente que “o Espírito o impeliu para o deserto” (1.12) para que fosse tentado, sugerindo a urgência por encontrar e vencer as tentações de satanás, que queria corrompê-lo antes que Ele embarcasse em uma missão de destruir o poder do inimigo nos outros.

Além das referências explícitas ao Espírito Santo, mostrando Sua atuação, através de Jesus (nos dando o exemplo que devemos seguir – deixar o Espírito operar em nós e através de nós), Marcos emprega palavras associadas com o dom do Espírito, como poder, autoridade, profeta, cura, imposição de mãos, Messias e Reino.
 
Esboço de Marcos
Introdução 1.1-13
  Declaração sumária 1.1
  Cumprimento da profecia do Antigo Testamento 1.2-3
  O ministério de João Batista 1.4-8
  O batismo de Jesus 1.9-11
  A tentação de Jesus 1.12-13
 
I. O Ministério de Jesus 1.14-9.50
  Princípio na Galiléia: Sucesso e conflito iniciais 1.14-3.6
  Etapas posteriores: Aumento de popularidade e oposição 3.7-6.13
  Ministério fora da Galiléia 6.14-8.26
  Ministério no caminho para a Judéia 8.26-9.50
 
II. O Ministério de Jesus na Judéia 10.1-16.20
  Ministério na Transjordânia 10.1-52
  Ministério em Jerusalém 11.1-13.37
  A Paixão 14.1-15.47
  A ressurreição 16.1-20

 

Forte abraço.
Em Cristo,
Ricardo, pastor

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