Comentário de Evangelho: Mateus

13/11/2006

 

Autoria
Embora este evangelho não identifique seu autor, a antiga tradição da igreja o atribui a Mateus, o apóstolo e antigo cobrador de impostos. Pouco se sabe sobre ele, além de seu nome e ocupação. A tradição diz que, nos quinze anos após ressurreição de Jesus, ele pregou na Palestina e depois conduziu campanhas missionárias em outras nações.

Data
Evidências externas (em outros livros e escritos que não o próprio evangelho em questão), como citações na literatura cristã do Séc I, testemunham desde cedo a existência e o uso de Mateus na comunidade de fé que tinha nascido. Líderes da igreja do Séc. II e III geralmente concordavam que Mateus foi o primeiro Evangelho a ser escrito, e várias declarações em seus escritos indicam uma data entre 50 e 80 d. C. Mas o fato de citar o nascimento de Cristo pode indicar que esse evangelho foi escrito mais próximo mesmo de 80 d. C., pois se fosse mais novo, não seria necessário detalhes sobre o nascimento, pois os que primeiro leram o texto teriam informações pessoais sobre o nascimento, o que faz com que estudiosos definam o Evangelho de Marcos como o primeiro, por ser mais curto e não elucidar muitos detalhes (talvez por maior proximidade com os fatos, o que não faz necessária uma maior explicação dos mesmo, como se faz para quem está mais distante no fator temporal).

Claro que esses comentários são feitos a partir da ótica humana, da possibilidade de chegarmos ao entendimento de possibilidades. Mas não dá pra descartar o fato que o Espírito Santo inspirou a escrituração e Ele pode ter dado a indicação da forma como escrever, independente do fator temporal. O conhecimento de técnicas de tentativa de aproximar a possibilidade de descoberta da data de um texto deve ser levada em conta e devemos conhecer as várias possibilidades, se o Senhor nos der a chance desse conhecimento. Como Ele me deu, compartilho com as pessoas, mas nunca deixando de lado que a o Espírito Santo deu a inspiração e as técnicas podem gerar expectativas diferentes que as que o Espírito quer gerar. Devemos conhecer, mas não para racionalizar o texto, antes para buscar com mais profundidade a questão espiritual que o mesmo quer nos trazer.
 
A revelação do Senhor
Este Evangelho apresenta Jesus como o cumprimento de todas as expectativas e esperanças messiânicas. Mateus estrutura cuidadosamente suas narrativas para revelar Jesus como cumpridor de profecias específicas. Portanto, ele mostra muito em seu Evangelho citações com alusões ao Antigo Testamento, introduzindo muitas delas com a fórmula “para que se cumprisse”.

No Evangelho, Jesus normalmente faz alusão a si mesmo como o Filho do Homem, uma referência velada ao seu caráter messiânico (Daniel 7.13,14). O termo não somente permitiu a Jesus evitar mal-entendidos comuns originados de títulos messiânicos populares, como lhe possibilitou interpretar tanto sua missão de redenção (como em 17.12,22; 20.28; 26.24) quanto seu retorno na glória (como em 13.41; 16.27; 19.28; 24.30,44; 26.64).

O uso do título “Filho de Deus” por Mateus sublinha claramente a divindade de Jesus (1.23; 2.15; 3.17; 16.16). Como o Filho, Jesus tem um relacionamento direto e sem mediação com o Pai (11.27).

Mateus apresenta Jesus como o Senhor e Mestre da igreja, a nova comunidade, que é chamada a viver a ética do Reino dos Céus desde já. Jesus declara: “a igreja” como seu instrumento selecionado para cumprir os objetivos de Deus na Terra (16.18; 18.15-20). O Evangelho de Mateus pode ter servido como manual de ensino para a igreja antiga, incluindo a surpreendente Grande Comissão (28.12-20), que é a garantia da presença viva de Jesus.

O Livro
O objetivo de Mateus é evidente na estrutura deste livro, que agrupa os ensinamentos e atos de Jesus em cinco partes. Este tipo de estrutura, comum ao judaísmo, pode revelar o objetivo de Mateus em mostrar Jesus como o cumprimento da lei. Cada divisão termina com uma fórmula como: “Concluindo Jesus estes discursos...” (7.28; 11.1; 13.53; 19.1; 26.1).

No prólogo (1.1-2.23), Mateus mostra que Jesus é o Messias ao relacioná-lo às promessas feitas a Abraão e Davi. O nascimento de Jesus salienta o tema do cumprimento, retrata a realeza de Jesus e sublinha a importância Dele para os gentios.

A primeira parte (caps. 3-7) contém o Sermão da Montanha, no qual Jesus descreve como as pessoas devem viver no Reino de Deus.
A segunda parte (8.1-11.1) reproduz as instruções de Jesus a seus discípulos quando ele os enviou para a viagem missionária.

A terceira parte (11.2-13.52) registra várias controvérsias nas quais Jesus estava envolvido e sete parábolas descrevendo algum aspecto do Reino dos Céus, em conexão com a resposta humana necessária.

A quarta parte (13.53-18.35), no principal discurso, Jesus aborda a conduta dos crentes dentro da sociedade cristã (cap 18).

A quinta parte (19.1-25.46) narra a viagem final de Jesus até Jerusalém e revela seu conflito com o judaísmo. Nos caps. 24-25 encontramos os ensinamentos de Jesus relacionados às últimas coisas. O restante do Livro (26.1-28.20) detalha acontecimentos e ensinamentos relacionados à crucifixão, à ressurreição e à comissão do Senhor à Igreja. A não ser no início e no final do Evangelho, a disposição de Mateus não é cronológica e não estritamente biográfica, mas foi planejada para mostrar que o Judaísmo encontra o cumprimento de suas esperanças em Jesus.

Atividade do Espírito Santo
A atividade do Espírito Santo é evidente em cada fase e ministério de Jesus. Foi por meio do poder do Espírito que Jesus foi concebido no ventre de Maria (1.18-20).

Antes de Jesus começar seu ministério público, ele foi tomado pelo Espírito de Deus (3.16) e foi conduzido ao deserto para ser tentado pelo diabo como preparação adicional a seu papel messiânico (4.1). O poder do Espírito habilitou Jesus a curar (12.15-21) e a expulsar demônios (12.28).

Em 7.21-23, encontramos uma advertência dirigida contra os falsos carismáticos, aqueles que na igreja, profetizam, expulsam demônios e fazem milagres, mas não fazem a vontade do Pai. Presumivelmente, o mesmo Espírito Santo que inspira atividades carismáticas também deve permitir que as pessoas da igreja façam a vontade de Deus (7.21).

Jesus declarou que suas obras eram feitas sob o poder do Espírito Santo, evidenciando que o Reino de Deus havia chegado e que o poder de satanás estava sendo derrotado (12.25-32).

Finalmente, o Espírito Santo é encontrado na Grande Comissão (28.16-20). Os discípulos são ordenados a ir e a fazer discípulos de todas as nações, “batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (v.19).


Esboço de Mateus
Prólogo: Genealogia e narrativa da infância 1.1-2.23
  Genealogia de Jesus 1.1-17
  O nascimento 1.18-25
  A adoração dos magos 2.1-12
  Fuga para o Egito e matança nos inocentes, a volta para Israel 2.13-13
 
I. Parte um: Proclamação do Reino dos Céus 3.1-7.29
  Narrativa: Início do Ministério de Jesus 3.1-7.29
  Discurso: O Sermão da Montanha 5.1-7.29
 
II. Parte dois: O ministério de Jesus na Galiléia 8.1-11.1
  Narrativa: Histórias dos dez milagres 8.1-11.1
  Discurso: Missão e martírio 9.35-11.1
 
III. Parte três: Histórias e parábolas em meio a controvérsias 11.2-13.52
  Narrativa: Controvérsia que se intensificam 11.2-12.50
  Discurso: Parábolas do Reino 13.1-52
 
IV. Parte quatro: Narrativa, controvérsia e discurso 13.53-17.27
  Narrativa: Vários episódios precedentes à jornada final de Jesus em Jerusalém 13.53-17.27
  Discurso: Ensino sobre a igreja 18.1-35
 
V. Parte Cinco: Jesus na Judéia e em Jerusalém 19.1-25.46
  Narrativa: A jornada final de Jesus e a instauração do conflito 19.1-23.39
  Discurso: Os ensinos escatológicos de Jesus 24.1-25.46
 
Epílogo: Narrativa da Paixão, Morte, Ressurreição e Comissão: 26.1-28.20
  A narrativa da Paixão 26.1-27.66
  A narrativa da ressurreição 28.1-10
  A narrativa da mentira sobre a Ressurreição: 28.11-15
  A narrativa da Grande Comissão: 28.16-20

 

Forte abraço.
Em Cristo,
Ricardo, pastor

Esta meditação foi enviada em 13/11/06 por e-mail.